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Relatos de Experiência: rotinas do trabalho de pesquisa no CPPR
O Blog do CPPR apresenta, aqui, relatos de três profissionais que lidam com pesquisas no Museu da Imigração, especialmente buscas de registros de famílias migrantes, e que compartilham um pouco das suas experiências e rotinas com o público.
Sabemos que uma parcela dos visitantes tem curiosidade em conhecer melhor o cotidiano de trabalho e as atividades desenvolvidas pela instituição nesse âmbito. Assim, esperamos que esses breves depoimentos sejam também uma oportunidade para aprimoramento do espaço de diálogo que temos com esse público.
Nicole Alexsandra - Estagiária
A oportunidade de atuar como estagiária no CPPR é uma experiência excepcional. Como graduanda em História, o contato diário com a rotina de pesquisa em fontes primárias digitalizadas desperta meu interesse não apenas pessoal, como também profissional e acadêmico. Dessa maneira, diariamente, os sete meses estagiando neste setor têm sido fonte de muito aprendizado e conhecimento.
Nesta conjuntura, tendo em vista que a memória é crucial para o desenvolvimento da própria História[1], o trabalho realizado no CPPR inclui não apenas nosso desempenho analítico enquanto pesquisadoras, mas também toda cortesia e atenção ao prestar atendimento ao público visitante que traz consigo suas próprias memórias, histórias e reminiscências.
Complementarmente, vale ressaltar como nosso espaço do Centro de Preservação, Pesquisa e Referência possui um público diversificado. Nos atendimentos presenciais, é possível notarmos, por exemplo, a presença de pesquisadores acadêmicos, grupos escolares, visitantes espontâneos e públicos buscando orientações sobre processos de cidadanias. Desse modo, ainda que os métodos e meios de pesquisa sejam os mesmos, cada atendimento e orientação é realizado de forma personalizada, visando cumprir a finalidade e objetivo da pesquisa.
Fica claro, portanto, que os trabalhos desenvolvidos pelo CPPR integram fatores internos e externos. Nesse sentido, através das pesquisas realizadas no Acervo Digital do Museu da Imigração e dos atendimentos prestados aos visitantes, pode-se constatar a afeição do público com os registros e a comoção ao encontrá-los preservados pela instituição. Assim, para além de um local de pesquisa e referência, de certa forma, o CPPR caracteriza-se também como um espaço aberto à emoção e afetividade.
Referências
[1] LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Editora da Unicamp, 2008, p. 419.
Bianca Alves - Assistente de Pesquisa
Minha jornada como Assistente de Pesquisa no CPPR iniciou em outubro de 2022. Estou cursando História da Arte e minha experiência no Museu da Imigração, mais especificamente no centro de pesquisa, até o momento, tem sido de extrema relevância para âmbitos pessoais, profissionais e acadêmicos. Ter iniciado a jornada no Museu da Imigração tem me tornado cada vez mais encantada pela profissão, sempre consigo relacionar os assuntos aprendidos em aula durante a realização do meu trabalho e vice-versa.
A cada dia, adquiro experiências significativas tanto com meus colegas de trabalho quanto com os visitantes. Lidar diretamente com as histórias de famílias é um trabalho que requer muita sensibilidade, afinal, falar sobre os antepassados pode ser uma experiência nostálgica muito mais emocionante do que é possível imaginar, principalmente pela proximidade de parentesco de algumas pessoas que nos procuram, já que muitas vezes encontram registros dos pais e avós, pessoas com quem chegaram a conviver.
Ademais, vale ressaltar a importância da difusão da informação por parte das pesquisadoras com os frequentadores do CPPR para desconstruir alguns "mitos" criados a respeito das imigrações e outros fatos históricos que são costurados nesse contexto de maneira deturpada.
Outrossim, nossa função como pesquisadoras vai além do atendimento direto ao público ou pesquisa por esses registros. Também realizamos estudos aprofundados em recortes específicos, escrevemos artigos que compartilham curiosidades, informações e apresentam novas perspectivas para quem os lê. Além disso, também somos direcionadas para participar de visitas a outros acervos, que possibilitam um intercâmbio de informações entre os museus, e ampliam ainda mais o repertório dos profissionais que lidam diariamente com fatos, permitindo assim que nossas habilidades em atendimento sejam aprimoradas todos os dias.
Gabriela Araújo - Analista de Pesquisa
A rotina de atividades no Centro de Preservação, Pesquisa e Referência do Museu da Imigração (CPPR) é um trabalho formado em diferentes vias, interno e externo. Grande parte do dia é, em essência, de contato direto com visitantes e pesquisadores que buscam o acervo de registros de matrícula da antiga Hospedaria de Imigrantes de São Paulo para encontrar informações sobre seus antepassados. Uma atividade de interação com suas memórias, curiosidades e bagagem de conhecimentos, que em determinadas situações está sedimentada em alguns "mitos" acerca da história da imigração no Brasil.
Além dos dados que o visitante menciona, é muito interessante notar como novos materiais são encontrados, se relacionam com diferentes perspectivas na construção da pesquisa genealógica e como certas lembranças surgem acompanhadas de documentos que só reaparecem a partir do diálogo com os pesquisadores do Museu.
Minha experiência como Pesquisadora Jr. no CPPR completa seis meses, porém trabalho a pouco mais de um ano no Museu da Imigração, inicialmente no setor administrativo em que pude me dedicar a conhecer o funcionamento de uma instituição da proporção do MI. Uma vez que minha formação é em História e Museologia, já existia o interesse em trabalhar na área técnica do museu e abracei a oportunidade quando surgiu. Como pesquisadora, em primeiro momento, cabe o exercício da escuta atenta, entender as demandas do visitante/pesquisador com cuidado pois, em boa parte dos casos, estamos lidando com as memórias e histórias de família que passaram de geração em geração. Depois, procuramos orientar com opções de acervos e documentos que podem auxiliar melhor a situação de cada pesquisa familiar.
Além do acervo de registros de matrícula da Hospedaria de Imigrantes, utilizamos como recursos as listas de bordo, o acervo de arquivos públicos de outros estado do Brasil e o FamilySearch, parceiro institucional do MI. O uso de cada recurso varia conforme a demanda, pois o acervo da Hospedaria é limitado, já que não era uma obrigatoriedade a todos migrantes serem acolhidos por esse tipo de serviço. Isso significa que nem sempre as pesquisas vão gerar o resultado esperado pelo visitante, mas, conforme o andamento das nossas conversas, ele sempre terá uma orientação do melhor caminho a seguir.
Para além desse aspecto externo dos trabalhos no CPPR, desempenhamos também algumas atividades internamente. Todos os dias, recebemos inúmeros e-mails de pessoas que desejam auxílio em suas pesquisas familiares. A orientação e pesquisa é realizada da mesma forma que acontece pessoalmente, porém com maior espaçamento de tempo uma vez que este formato de pesquisa depende muito mais das informações enviadas e uma conversa virtual difere da pessoal em termos de praticidade. Aliás, uma dica para quem deseja iniciar uma pesquisa on-line, a mensagem precisa ter informações detalhadas, na medida do possível, sobre o antepassado que procura: nome completo do "chefe da família", quem o acompanhou na viagem, local em que a família se fixou no Brasil, etc. Dados nunca são demais e todos eles ajudam para uma devolutiva mais satisfatória. Vale lembrar que, pela Hospedaria de Imigrantes do Brás, passaram pessoas que tinham como destino o estado de São Paulo e sul de Minas Gerais.
Além das pesquisas via e-mail, nossos compromissos consistem em atividades propostas pela coordenação. O setor de pesquisa é uma parte importante que compõe os processos museológicos em conjunto a outros setores indispensáveis dentro de um museu, como conservação, educativo e comunicação museológica. Essas atividades podem ser resumidas a visitas ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, pesquisas internas para novas exposições, relatórios, contatos e intercâmbio com outras instituições museológicas e culturais, redação de textos para o blog do Museu da Imigração, entre outras.