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O ofício da marcenaria
Pablo Briones Revilla nasceu em Madri, na Espanha, em 1928. Veio para o Brasil em 1954, quando já possuía o ofício de marceneiro. Ao chegar em São Paulo, conseguiu seguir com o exercício de sua profissão, fez cursos de aperfeiçoamento e abriu sua própria marcenaria. Pablo teve sua história registrada em 1998, cuja entrevista integra nossa coleção de História Oral:
“Tinha a mesa na cozinha, tinha um compressor, comprei uma serrinha e ferramentas que eu trouxe de Espanha, como aquela serra manual que eu vou te mostrar, vou levar lá para o museu, tenho tudo guardado. Comecei a trabalhar em casa fazendo a armação para sofás. Aí não deu certo, fiquei uns meses em casa e aí voltei a trabalhar com os italianos, eu entrei de encarregado, de mestre lá na oficina. Estava lá com meus 29 anos. Tinha muito espanhol naquela época e tinha muito italiano também, né. Naquela época as oficinas de marcenaria eram a maioria de italianos. Depois, agora, os espanhóis tomaram conta na parte de móveis. Eu sempre trabalhei com móveis finos, em Espanha e aqui, restauração de móveis… sempre trabalhei com isso”.
A serra manual citada por Pablo faz parte de nosso acervo museológico, justamente a outros itens relacionados à marcenaria doados por ele na ocasião, bem como algumas fotografias, atualmente digitalizadas. Dentre as peças doadas encontramos este arco de pua, esta plaina, e uma serra pequena – esta última, embora não catalogada como parte da doação de Pablo, pode ser uma das peças descrita em seu processo de doação, pois suas características materiais são bastante específicas. Estas ferramentas são bastante comuns no ofício da marcenaria, servindo para furar superfícies, separar e cortar e, por fim, dar acabamento à madeira. Ao observarmos os móveis do acervo do Museu da Imigração com cuidado, é instigante imaginar a utilização de peças como essas em seu processo de feitura, nos detalhes de encaixe, formas e detalhamentos.
No final de 2016, o Museu da Imigração realizou uma edição do “Encontro com o acervo” com um experiente marceneiro da área de restauro, a fim de refletir sobre uma seleção de ferramentas previamente separada – entre elas, as peças aqui citadas. Foi possível apreender, por exemplo, características de produção e uso como o trabalho e a capricho de cada pessoa com a confecção das próprias ferramentas artesanais, elaboradas para se adequar perfeitamente à mão e às preferências do dono, bem como as principais características daquelas industrializadas, a forma de utilização e marcas de manuseio. No caso destas peças, trazidas da Espanha, é possível observar algumas marcas de uso, bem como algumas particularidades do trabalho artesanal – especialmente no caso da serra.